Friday, August 25, 2006

Entrevista capítulo dois

foto de desenho de marylin com foto dela no fundo para video de Special Nothing

foto de ensaio em edimburgo
foto de ensaio de Burger King Lear em Montemor-o-Novo












e foto da rapariga a tocar instrumentos estranhos numa destas noites















já deixei de contar os dias que faltam para regressar a casa. montar e fazer 22 espectaculos em 25 dias é coisa nova para mim, principalmente tão longe de casa. no inicio a coisa foi mesmo dura e contava cada dia que passava. agora essa sensação desapareceu e até gostava de desacelerar o tempo, pois sinto que estes ultimos dias escorregam por nós como luz que nos toca mas que não conseguimos agarrar. sinto que todos estamos a desejar regressar mas ficam aqui alguns bons momentos. e deixar um lugar para ir para outro lugar tem sempre um pouco de partida, mesmo que seja um regresso a casa.

hoje tive um convite para participar numa exposição em novembro próximo numa galeria aqui em edimburgo. fiquei contente. muito contente mesmo pois o reconhecimento, ainda que pequeno do nosso trabalho é sempre uma força para continuar. senti o desejo imediato de ir fazer coisas, de ir pintar ou escrever.

tivemos um espectaculo brilhante e de dia para dia as coisas estão a correr melhor. o publico aplaude com gozo no final. são muito tocantes as pequenas conversas e opiniões que trocamos com alguns espectadores a seguir a cada apresentação. cada dia nos dizem coisas diferentes e aprendo a ver o espectáculo sobre um novo prisma. estar aqui tem sido para mim uma aprendizagem e o manter vivo a minha ambição como criador, separando-me das pequenas misérias que todos temos, dando ao meu trabalho uma outra vertigem, uma outra nova dimensão. gostava na realidade de ter tido casas cheias, mas isso está um pouco fora de controle, mas temos cada dia mais um pouco de publico, que sabe o que vem ver, vem porque alguém lhe falou no espectáculo, e vem com um sentido crítico muito vivo.

hoje tivemos os primeiros dois portugueses, a ver a peça, mãe e filho, dois madeirenses, ele está cá a trabalhar faz já um ano, ela veio visitá-lo nas férias; foi comovente, pois vieram ver-me porque uma minha aluna das Caldas da Rainha, da ESAD, a Cátia lhes disse que estávamos aqui; trouxeram um DVD onde o filme Um Tiro no Escuro e pediram-me a mim e ao miguel que o autografassemos. foi um momento particularmente doce que vou recordar.

como prometido aqui vou deixar a segunda pergunta, que a jornalista Joana Gorjão Henriques me fez e que penso vai servir de base a uma entrevista no publico. se alguém vir essa entrevista entretanto guarde me o jornal se faz favor, pois aqui não é possível encontrar O Público; e não tenho acesso à net sobre as notícias que saem pois agora o publico online é pago.

a pergunta da Joana:

Como está a reagir o público?

a minha resposta:

Em Edimburgo neste momento estão a decorrer vários festivais ao mesmo tempo e por isso a quantidade de promotores e de público que aqui acorre é imenso e sem qualquer capacidade de ser explicado sem cá estar. É uma cidade invadida por turistas, em quantidades industriais; no primeiro domingo do Festival foi organizado um dia especial num parque da cidade em se calcula que estiveram duzentas mil pessoas a assistir a espectáculos nessa manha e nessa tarde mais todos os outros que se passavam na cidade. Os públicos que aqui temos são diferentes do público português na sua generalidade. Há muitas pessoas muito bem informadas, mas a maioria procura espectáculos de entretenimento puro; é por isso que a comédia tem um papel tão relevante no Festival; é mesmo juntamente como a música o tipo de espectáculo que mais público tem; nós estamos num espaço que nos últimos seis anos tem procurado marcar uma certa diferença e aposta claramente naquilo que se chama o teatro físico, ou a dança teatro, espectáculos de um cariz mais artístico e mais inusual em termos de Festival diga-se; há quem diga mesmo que o Fringe se tornou de tal modo mainstream que existe a necessidade de voltar a existir um Fringe do Fringe para voltar a existir um festival de carácter experimental e artístico como foi a marca de qualidade que o Fringe teve em tempos; agora é um grande negócio e uma grande montra para o mundo inteiro do espectáculo; a quantidade de jornalistas e de promotores que sonham aqui encontrar uma pérola, um espectáculo inesquecível feito pelo grupo mais desconhecido e no sítio mais improvável é imensa; todos os dias temos novos jornalistas e novos promotores, vindos sabe-se lá de onde; alguns apresentam-se outros não; mas é uma sensação indescritível estar a ser observado e julgado ao mesmo tempo com uma ferocidade a que não estamos habituados, com uma frontalidade e uma ginástica muito desenvolvida em termos de crítica e de análise do que aqui se faz e se apresenta; estas qualidades estendem-se ao público que aplaude e que sai das salas coma maior arrogância e desenvoltura a que não estamos habituados em Portugal; há jornalistas, promotores, publico que vêem quatro, cinco, seis ou sete espectáculos por dia; o seu grau de exigência torna-se enorme e de grande crueza para com os artistas; nós nesse aspecto temos tido sorte, muita sorte mesmo posso dizer; não temos tido o público que desejávamos, pelo menos em quantidade, e isso é importante, pois a bilheteira é o único meio de cobrir parte das enormes despesas que os grupos têm, mas temos tido um número crescente de espectadores, que pensamos vêm atraídos pela onda de boca à boca que se tem criado pela qualidade do espectáculo que aqui estamos a apresentar. A qualidade do espectáculo tem vindo a aumentar de dia para dia, pois os dois actores que aqui estão comigo, são sem dúvida dos melhores com quem tenho trabalhado: tanto o Anton Skrypiciel, como o Miguel Borges têm vindo a criar uma cumplicidade, que com o número de espectáculos que temos feito, tem vindo a ser o ponto forte da nossa apresentação aqui. Isto aliado aos ensaios que estamos a fazer da nova peça sobre o Rei Lear, tem vindo a dar-lhes uma profundidade, que acho ser aí que reside a fantástica reacção que estamos a ter aos nossos espectáculos; começámos quase invisíveis é certo e foi mesmo desesperante o inicio, não podemos ainda dar-nos por satisfeitos mas os últimos espectáculos têm tido um número crescente de espectadores e um numero crescente de aplausos e de menções entusiásticas no final; o número de convites e de contactos para outros espectáculos assim o parece querer confirmar; esperemos pala última semana, para ver o que nos espera.

Um abraço para Portugal

João Garcia Miguel

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